Agora que a Apple vendeu 160 milhões de iPods, revolucionou a indústria da
música e inspirou dúzias de concorrentes, talvez seja hora de admitir: essa
história de tocador de música pode ser mais que uma moda.
Mas durante todo esse tempo, quase ninguém falou da gritante falha que
acompanha cada uma dessas coisinhas: os fones de ouvido.
É isso mesmo. Centenas de milhões de vezes por dia, proprietários de tocadores
de música enfiam pequenos discos brancos em seus ouvidos sem pensar, expondo-se
surdos e rudes ao mundo externo.
E isso apenas se você consegue mantê-los fixos. Ninguém fala a respeito, mas um
pedaço considerável da população não possui a formação cartilaginosa própria
para manter os fones no lugar.
Bem, a tecnologia criou esses problemas, e agora trouxe a solução. Dois
fones de ouvido alternativos já estão disponíveis nos EUA; ambos resolvem todos
os problemas de audição, segurança e encaixe dos fones tradicionais em forma de
disco.
Em vez de entrar em seu ouvido, eles passam o sinal de áudio
diretamente por seus ossos ou cartilagem. Eles seriam perfeitos (se não fossem
tão falhos em suas próprias maneiras).
Os mais promissores são os Audio Bones. Ele vem nas cores laranja, azul, preto
ou branco por US$190 ou, por U$30 a mais, rosa, verde limão, bege ou
púrpura.
São fones de ouvido de condução por ossos, significando que passam o som
diretamente por seu esqueleto até seu ouvido interno, ultrapassando o tímpano.
O arco de plástico esculpido fica atrás de sua cabeça, enganchado sobre suas
orelhas, de forma que os fones de ouvido, se é que podemos chamá-los assim,
permaneçam apenas à frente de suas orelhas.
Em outras palavras, seus ouvidos ficam completamente abertos. Você consegue
ouvir a música do tocador, mas também escuta tudo à sua volta.
Som de fundo
Há uma imensa inteligência nesse desenho, e uma longa lista de vantagens.
Por exemplo, esses fones resolvem eficientemente o problema da rudeza, pois
você não se fecha mais às conversas.
Esses dispositivos também param no lugar, pois não envolve nenhuma cunha de
cartilagem. Enganchá-los sobre suas orelhas segura os Audio Bones sem
problemas. Nem todo mundo tem bolsos de cartilagem compatíveis com iPod, mas
todos têm orelhas.
Como bônus, os Audio Bones se embaraçam menos que os fones tradicionais.
Apenas um fio emerge, saindo do centro da parte de trás do arco – e não um para
cada fone.
Agora, isto provavelmente soará alarmante e controverso. Mas quando você
realmente pensa nisso, esses fones também são perfeitamente seguros de usar
enquanto se dirige. Afinal, como poderia ser mais perigoso usar esses fones do
que escutar o rádio do carro? A única diferença é que os alto-falantes são
muito menores e ficam bem mais perto da sua cabeça.
Como se não bastasse, você pode escutar música pelos Audio Bones mesmo usando
tapa-ouvidos, o que pode ser muito prático para quem trabalha em lugares
barulhentos. Não tente isso com os fones habituais do iPod.
À prova d'água
Eles também são à prova d’água. Se encontrar alguma forma de manter o
tocador seco (comprando um estojo à prova d’água, por exemplo), você poderá
ouvir uma musiquinha enquanto dá algumas braçadas.
É um ponto pequeno, mas também vale mencionar que os Audio Bones são muito
menos nojentos quando você quer compartilhar a saída de seu tocador de música.
Admita: quando alguém desenterra os fones comuns de seus canais auditivos e os
entrega a você, há pelo menos um breve momento de avaliação de higiene pessoal
enquanto você se prepara para inseri-los na sua própria orelha.
O fabricante dos Audio Bones também afirma que a condução pelos ossos apresenta
menor possibilidade de contribuir à perda de audição ao longo dos anos, e que
essa tecnologia permite que algumas pessoas com tímpanos danificados possam
novamente se beneficiar com a música. (A condução pelos ossos já é
disponibilizada em certos aparelhos auditivos.)
Essa é uma bela lista de virtudes. E, exceto pelo preço excessivo, os Audio
Bones têm apenas uma desvantagem – mas é das grandes: a qualidade do som não é
muito boa.
Comparado aos fones tradicionais, os Audio Bones soam abafados, com menos
presença. Também possuem bem menos potência; é preciso empurrar ao máximo o
volume de um iPod para se ouvir o que está tocando. Audiófilos sérios que já
reclamam da qualidade de áudio do iPod ficarão certamente horrorizados.
Entretanto, os Audio Bones são perfeitamente adequados para livros em áudio,
música para malhação e som ambiente. E oferecem aquela longa lista de
vantagens. Coloquemos dessa forma: se motoristas, ciclistas ou corredores
terminarem com apenas um acidente a menos graças ao uso dos Audio Bones, já
seria um bom começo.
Pela cartilagem
Mas a estrutura óssea não é o único caminho até o coração de um amante da
música. Uma empresa chamada Zelco oferece uma experiência fora-da-orelha
totalmente própria: os fones Outi (US$110). Esses fones de ouvido completamente
bizarros são presos sobre a parte externa de sua orelha, tornando-os algo como
os primeiros fones de condução em cartilagem do mundo.
Encontrar o ponto perfeito pode levar algum tempo; o som muda bastante
dependendo de onde você os prende na orelha. Eles não são especialmente
confortáveis, também, já que permanecem fixos ao mastigar sua carne.
(Felizmente, a cartilagem do ouvido não é das mais sensíveis.)
Mas a parte mais estranha é o recurso oculto dos Outis, que só aparece quando
se começa a tocar uma música: eles vibram.
Num esforço para simular os fortes pulsos de um subwoofer num sistema de som
surround, a Zelco equipou cada fone com o que deve ser um primo do pequeno
mecanismo de vibração de um celular. Acompanhando cada batida da bateria ou
acorde da guitarra, você sente um pequeno, audível, vibrante “drrrrrr” em seus
ouvidos. Sim, você sente a música de verdade, embora a sensação não seja tanto
uma pancada nos ossos, mas uma coceira rítmica.
O efeito é absolutamente polarizado. Algumas pessoas acham que as vibrações
tornam mais interessante o ato de escutar músicas. Outras mal podem esperar
para arrancar essa coisa de suas cabeças.
Infelizmente, os Outis também exigem seu próprio conjunto de pilhas, uma caixa
de plástico branco que você deve prender à sua roupa e lembrar de recarregar
(plugando-o a uma tomada ou a uma entrada USB) a cada seis ou oito horas de
uso. É um enorme incômodo.
A unidade de bateria tem um pequeno botão que supostamente deveria alternar
entre quatro níveis de vibração. O que ele realmente faz é alternar entre
quatro níveis de volume. Em outras palavras, não é possível diminuir a vibração
sem diminuir também o volume.
É uma pena, de verdade, porque ali há uma promessa. Retire esse diferencial de
vibração, e você tem fones que entregam um forte baixo e agudos definidos..
Ainda assim, um redesenho faria você parecer menos estranho usando os fones. As
pessoas podem pensar que você está usando tampas de tubos de batom atrás das
orelhas.
Mas veja o lado positivo: pelo menos alguma inventividade está sendo aplicada
ao problema dos fones de ouvido internos. (O mais brilhante até hoje é o
Arriva. Seus fones têm uma entrada para iPod Shuffle embutida bem no meio do
arco dobrável, que fica atrás de sua cabeça. Resultado: um sistema de música
pessoal em uma peça, sem fios, não desmontável e de fácil acesso. Se você tem
cabelos compridos pode esconder todo o dispositivo, o que muda completamente a
experiência ao participar de longas reuniões.)
Se não se importa em abrir mão de um pouco de volume e clareza de áudio por
muita segurança e conveniência, então os Audio Bones podem ser perfeitos para
você. E quanto aos Outis: por enquanto, eles são considerados um experimento
para os loucos por tecnologia.